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Novas famílias, velhos problemas

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Por Marsílea Gombata – Carta Fundamental

O que é família? A primeira resposta à pergunta relativamente simples é a imagem clássica de pai, mãe e filhos. Mas esse próprio “conceito” já sofreu transformações importantes ao longo da história. Especialistas identificam três tipos de família na cultura ocidental: a tradicional, nas quais o casamento arranjado embutia a ideia de negócio; a moderna, que, a partir do fim do século 18, pauta a escolha do parceiro através do amor e desejo; e as contemporâneas, que se modelaram por uma série de transformações a partir dos anos 1960, tais como o divórcio, o feminismo, os direitos homossexuais, os métodos contraceptivos e a fertilização in vitro.

Elementos que mostram, segundo o livro A Família em Desordem, de Elizabeth Roudinesco, que a imagem da “família Doriana” – aquela que povoava os comerciais de uma marca de margarina nos anos 1990 – é um tipo idealizado que dificilmente faz jus à realidade de hoje. No Brasil, por exemplo, o tripé pai, mãe e filhos vem dando espaço para novos formatos, nos quais mães e pais solteiros, casais homoafetivos, avós e tios cuidadores são os novos protagonistas.

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“A família hoje é mais livre, mais verdadeira, mais autêntica. Sua essência não é mais um núcleo econômico e reprodutivo, mas sim um locus da estruturação de um ser”, observa o advogado Rodrigo da Cunha Pereira, presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM). “O casamento não é mais o legitimador das relações sexuais e a reprodução está cada vez mais desatrelada da sexualidade.”

As novas maneiras de se relacionar e a queda de tabus em relação a, por exemplo, orientação sexual levaram a uma verdadeira revolução na composição familiar. Seus ecos são tanto produto da transformação social em curso quanto desafios para setores como as escolas, que ainda tateiam como absorvê-los.

Ainda em um processo de adaptação às novas configurações, as instituições de ensino vêm se esforçando para assimilar alunos cujo núcleo primário foge à forma mais tradicional. A tarefa não tem sido das mais fáceis, revelam mães e educadores. Casada com Débora Martins Gomes desde 2003, a autônoma Thaise Souza, 29 anos, viveu uma situação desconfortável na escola particular em que a filha Ana Luiza, de 7 anos, estudava em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Apesar de informar na matrícula sobre a sua constituição familiar, descobriu mais tarde que a escola mantinha uma educação com base em fundamentos neopentecostais e viu sua filha ser humilhada em sala de aula, quando disse que tinha duas mães e recebeu da colega ao lado o comentário de que aquilo não era de Deus. “Ela chegou em casa aos prantos. Reclamamos, a escola prometeu tomar providências, mas acabou não fazendo nada. Foi um ano difícil, mas decidimos mantê-la até o período acabar”, conta sobre 2013. Decidiu, depois, colocar a primogênita (gerada por ela) em uma escola pública na vizinha Seropédica, onde vive com os outros filhos, Davi, de 5 anos, e Théo, de 2.

A homofobia atingiu de forma semelhante a família de Govinda Lilamrta, 29 anos. Em uma briga na escola, sua filha mais velha ouviu de uma coleguinha de sala: “E sua mãe, que é sapatão?!” “Nara ficou um pouco chateada, mas a professora interveio para elas voltarem a se falar”, conta a chef de cozinha, que é casada com a auxiliar executiva Adriana Bonuzzi de Faria, 29 anos, com quem cria Nara, de 9, e Quézia, de 7 anos. Ambas estudam com bolsa em uma escola particular da zona oeste de São Paulo e são fruto do casamento anterior de Govinda.

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