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Quando os pais se separam

Ascom

Publicado no Jornal Estado de Minas no dia 30/10/1995

É muito comum entre os casais que pensam em uma separação (divórcio) adiarem este doloroso ato, ou mesmo não fazê-lo, em nome dos filhos. Pensa-se que eles irão sofrer muito e carregar traumas indeléveis. “- Não me separei ainda por causa dos filhos!” Seria esta uma atitude verdadeiramente saudável para eles e para o próprio casal?

Separar significa mais que separar, significa desmanchar um sonho de felicidade e romper uma estrutura. É muito sofrido e doloroso, por mais que as partes tenham consciência de sua, às vezes, necessidade. Ninguém se separa porque quer, ou pelo prazer, ou porque é moderno. Ora, os casais só se separam em último caso. Estica-se a relação o máximo possível. Alguns, principalmente os homens, até estabelecem relações extraconjugais, corno uma forma de tamponar os buracos da relação para manter e suportar o casamento oficial.

Nós, advogados, não temos o direito de dizer aos clientes se o melhor é a separação ou não. Seria igualmente moralista dizer separe ou não separe. Exercendo eticamente nossa função, devemos orientar e fornecer aos nossos clientes os elementos necessários para que eles decidam por si mesmos os – rumos de sua história amorosa. Devemos ter o cuidado de não influenciá-los com nossa opinião é não abusar da relação transferencial que existe entre nós, assim como há entre psicanalista e cliente.

Não se trata de ser contra ou a favor da separação de casais. Isto não é de nossa alçada. Entretanto, devemos demonstrar àqueles que pretendem uma separação, que este é um ato de responsabilidade, e às vezes uma saída para a saúde e pode ser até honroso.

Quando somos procurados para uma separação, na maioria das vezes, já é o desfecho final. Devemos entender que o processo judicial é apenas um dos pontos ou aspectos da separação. Quando há uma desunião, ela inicia-se muito antes de os clientes nos procurarem. Neste momento, talvez já esteja na metade deste processo, que pode culminar com o judicial, ou mesmo com a não-separação. Mas este processo deve significar sempre e sempre uma libertação, seja ele culminando com o desenlace conjugal, ou não. Precisamos olhar para estas relações com mais coragem e cuidado e saber escutar que o discurso consciente, aquele que aparece, muitas vezes é o encobridor de uma possibilidade ou da dificuldade de ser feliz.

Assim, da observação e escuta de mais de quinze anos, podemos dizer que os filhos têm sido utilizados, na maioria das vezes, como instrumentos e escoras para tomar importantes decisões. Ora, já está provado que os filhos estarão melhor à medida em que os pais estiverem melhor: juntos ou separados. O divórcio pode ser sempre um mal menor. É preciso não esquecer nunca que a separação é somente dos pais, os filhos não se separam jamais de seus genitores.

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