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Um mergulho no mais humano dos direitos

claudiovalentin

Fonte: Gazeta do Advogado

 

Área de Família pode ser uma boa opção para advogados, mas requer atualização permanente e muita disposição para ouvir

Uma área para quem gosta de desafios e de lidar com a diversidade do ser humano. Esse é o Direito de Família – ou das Famílias, que é assim chamado, no plural, porque plurais também são as composições desse universo na sociedade contemporânea. Com um campo vasto de atuação, abrange desde pensão alimentícia, divórcio, investigação de paternidade, guarda, convivência de filhos, adoção, alienação parental, abandono afetivo, partilha e sucessões.

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (Ibdfam), Rodrigo da Cunha, é o mais humano dos direitos. “Nós que trabalhamos com o Direito de Família, somos como sacerdotes e psicanalistas, profissionais da escuta. O Direito de Família está em constante evolução na sociedade contemporânea. É preciso compreender que todas as famílias, quer queiram, quer gostem ou não, devem ser amparadas pelo Estado Brasileiro”.

Criado há 17 anos, o Ibdfam reúne profissionais da área, oferece cursos de capacitação, realiza congressos e seminários além de atuar como Amicus curiae em causas que envolvem o Direito de Família no Supremo Tribunal Federal (STF). “Até pouco tempo, a maioria das leis e os próprios profissionais que atuavam nessa área tinham uma visão apenas patrimonial, o mais importante era a proteção aos bens da tradicional família patriarcal no país. Mas muito já mudou. Hoje o Ibdfam reúne quase oito mil membros de todas as regiões. São advogados, promotores, juízes, desembargadores, psicanalistas, enfim, profissionais que lutam cotidianamente para combater o atraso, o preconceito e a exclusão”, conta Cunha.

Entretanto, as leis não acompanharam a evolução dos costumes e das novas configurações familiares. Na atuação do Direito de Família, os principais instrumentos são a inovação dos princípios constitucionais e a jurisprudência. Por isso é importante que o profissional que deseja se especializar na área se atualize permanentemente. “Ler muito, especialmente artigos e livros de pensadores com uma visão mais inovadora. Mas também saber cuidar de si mesmo, olhar para dentro, para que possa estabelecer uma boa relação com os clientes”, aconselha Cunha.

O mercado é bem receptivo a novos advogados, principalmente profissionais que tenham uma visão mais ampla e humanista. Mas está também cada vez mais competitivo e exigente. Além do conhecimento técnico, o interessado deve ser sensível às particularidades da área, e especialmente às necessidades do sujeito. “O nosso trabalho impacta profundamente a vida das pessoas. É sempre muito doloroso para os envolvidos um divórcio ou a perda de um familiar, só para exemplificar. Antes de tudo, é preciso ter muita paciência e saber ouvir”, indica Cunha.

Gustavo Kloh é professor da FGV Direito Rio e advoga há dez anos. Para ele, existem três aspectos positivos principais no Direito de Família: é um mercado que não sofre a influência de crises econômicas, portanto é estável; está em expansão com o reconhecimento de novas famílias; e, por ter aspecto pessoal, é uma área muito boa para quem está no começo de carreira. Mas ele ressalta um ponto negativo. “Essa área sofre em razão da proletarização da profissão e achatamento dos honorários. Jogam os honorários para baixo e assim desvalorizam a profissão”, critica.

Rodrigo da Cunha admite que as principais dificuldades encontradas pelos advogados especialistas ainda estão atreladas à demora em oferecer soluções para os clientes. “O Poder Judiciário infelizmente ainda é moroso, mas acredito que muitas demandas em breve serão solucionadas por meio da mediação, para a resolução de conflitos, ou nos cartórios, dando mais agilidade”, Cunha acredita que a tendência no Direito de Família é a desjudicialização.

Segundo ele, o primeiro passo para ser bem sucedido é gostar do que faz. Depois, estar inteiro naquilo que faz. “É uma área apaixonante e uma dica é não ficar restrito apenas ao Direito. O que contribuiu muito para o meu trabalho nestas três décadas em que tenho atuado como advogado foi o estudo da psicanálise”. Ele ressalta a importância de se manter atualizado e sempre estar estudando, mas adverte que só o conhecimento técnico não garante o sucesso profissional. “É preciso ter senso de administração e organização. Mas é preciso também lembrar sempre da velha fórmula de Aristóteles: conhece-te a ti mesmo. Isto pode nos dar um equilíbrio interno e uma segurança, que naturalmente o cliente saberá. É importante também que separemos as questões objetivas das subjetivas para atuarmos melhor em nossa profissão. A nossa profissão é também um trabalho de ajuda às pessoas que nos procuram”, assume.

“Mas acho que quem melhor sintetiza isto é Fernando Pessoa: Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui / Sê todo em cada coisa. / Põe quanto és / No mínimo que fazes. / Assim em cada lago a lua toda / Brilha, porque alta vive.”

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