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O que quer um homem?

Ascom

Publicado no Jornal Estado de Minas no dia 5/12/1996

Desde o patriarcalismo, o homem sempre se definiu como um ser humano privilegiado, dotado de alguma coisa a mais, ignorando pelas mulheres: o mais forte, mais inteligente, mais corajoso, mais responsável, mas racional. Sempre havia um mais para justificar a relação hierárquica com as mulheres. Em conseqüência do movimento feminista, na década de 70, os homens começaram a questionar sua identidade. O papel masculino ideal, fonte de alienação para os homens e desentendimento com as mulheres foi colocado em xeque. As certezas ficaram abaladas.

Contrariamente à identificação feminina, a identificação do homem, tradicionalmente, se define mais por evitar alguma coisa do que propriamente desejar alguma coisa. Em outras palavras, ser homem significa: não ser feminino, não ser homossexual, não ser dócil, dependente ou submisso. Assim, a construção da identidade masculina, confundiu-se com um processo de diferenciação. Mas, a identidade masculina não está garantida por nenhum conceito que a defina a partir de um predicado. As proposições do tipo, “macho não chora”, “aquilo roxo”, “seja homem”, é o sinal de que a virilidade talvez não seja tão natural quanto se pretende. Ser homem implica um trabalho que não é exigido das mulheres, sempre sob o receio de que venha alguém dizer o contrário.

Mas, afinal, o que quer um homem, além de ficar por aí perguntando “O que quer uma mulher”? Esta pergunta só vem à tona quando a virilidade masculina está ameaçada, pois queremos que as mulheres queiram só o que temos a oferecer. Nossa fé no significante único sobre o qual estrutura-se o ideal do gênero masculino (falo) não nos permite duvidar. Esta dúvida só se torna possível ao homem quando ele se “histeriza” um pouco e permite-se duvidar.

A identificação do homem como provedor, mantenedor, aquele que paga a contra e sustenta a família, está mesmo perdendo terreno. Assistimos neste final de século, por exemplo, ao crescimento do número de famílias chefiadas e sustentadas por mulheres. Entretanto, isto não significa o declínio das funções que sempre foram identificadas com o masculino e a virilidade. Mas as certezas sobre a identidade masculina estão mesmo abaladas. Na realidade, a mudança ou o declínio, é do milenar sistema patriarcal. E é exatamente a partir da quebra desta ideologia patriarcal que o Direito teve que começar a repensar suas estruturas e, conseqüentemente, assistimos a incessantes modificações na legislação sobre o Direito de Família.

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